Como a necessidade de atualização constante e a velocidade absurda de novas informações interferem na educação do médico? A tecnologia pode apoiar a formação e a constante atualização do conhecimento na medicina? Por que recorrer a ferramentas tecnológicas a fim de aproximar e complementar a ação humana na saúde? Qual o papel da tecnologia nesses cenários? Para tratar sobre esses temas tão complexos, a Online Clinic trouxe para sua live mensal Felipe Coimbra, cirurgião oncológico e professor ligado ao Instituto Integra Saúde e A.C. Camargo Cancer Center. O bate-papo ocorreu no dia 19 de outubro, das 19h às 20h, no Instagram @onlineclinicsp. A Online Clinic desenvolve tecnologias para gestão de consultórios, clínicas e hospitais, com sistema de pagamento integrado e recursos para telemedicina.
“Há muito tempo promovemos a educação continuada no Brasil. Além de formar médicos, temos o papel de passar informações de qualidade aos pacientes”, resume o cirurgião oncológico que ingressou na Universidade Federal do Pará aos 16 anos. Coimbra ressalta que o grande desafio frente ao volume de informações disponíveis na Internet é filtrá-las e entender como aplicá-las. Ele comenta que, além das transformações na tecnologia, na educação e na comunicação, há informações recentes sobre como o cérebro funciona e aprende. “Tudo isso tem mudado a forma de ensinar. Hoje sabemos que o estudo centrado no aluno traz um aprendizado mais prolongado e aprofundado”, destaca. Essa metodologia, porém, exige maior esforço do aluno.
Para o cirurgião oncológico, a educação médica está em transformação, baseada em habilidades que o profissional precisa aprender para cuidar do paciente. O aprendizado com os casos clínicos é fundamental. “O médico também tem que ensinar o paciente a se cuidar, tem que planejar a saúde, resolver problemas, diagnosticar, entender a doença, estadiar e tratar”, enumera.
Coimbra comenta que as tecnologias da telemedicina e de ensino a distância (EAD) já existiam e a crise sanitária trazida pela COVID-19 forçou o uso desses recursos. “Muitos se adaptaram e viram que é possível aproveitá-las, mas nem todos se adaptam ao ensino a distância, a equipe educacional tem que criar um ambiente com presença social e cognitiva”, opina o professor no A.C. Camargo Cancer Center.
“A tecnologia pode ajudar ou atrapalhar – depende de como organizá-la”
Quanto à adoção de tecnologias, ele destaca que a telemedicina e o atendimento presencial não são concorrentes. “Eles são complementares, trazem mais opções. O mesmo vale para a educação. A tecnologia pode ajudar ou atrapalhar – depende de como organizá-la”, pondera. Para o médico, o papel da telemedicina é muito claro. Hoje, muitas vezes, o paciente não precisa viajar para fazer uma consulta porque é possível adiantar o atendimento com a telemedicina.
Os recursos tecnológicos podem favorecer o médico também no acesso à continuidade da formação. Ocorrem grandes mudanças na Medicina. Em algumas áreas, o conhecimento duplica a cada dois anos. Na faculdade, há os conhecimentos que não mudam, mas há atualizações que são constantes, tratamentos que mudam a cada mês. Acompanhar esse conhecimento não é o único desafio do profissional médico. Ele também lida com a administração do tempo. E nesse aspecto a contribuição dos recursos da telemedicina e do ensino a distância (EAD) é inquestionável. “Reduzir o desperdício de tempo no transporte e no acesso a locais; organizar o tempo para família, fazer atividade física e estudar. É possível usar a tecnologia de forma adequada”, orienta.
Quando ao ensino no futuro, Coimbra assevera que, independentemente dos avanços tecnológicos, um aspecto não poderá ser alterado: “Não pode faltar o contato com o paciente, tem que ter empatia pelas pessoas, colocar-se no lugar do paciente. Isso não pode faltar independentemente, do perfil da faculdade do futuro”.
“Telemedicina, aula presencial e/ou remota são formas de melhorar vidas e construir uma educação melhor no País”
De acordo com Coimbra, apesar de o câncer ser a segunda doença que mais mata adultos no Brasil e no mundo, depois das doenças cardiovasculares, 80% das faculdades de Medicina no Brasil não têm a disciplina de Oncologia. Este assunto é compartimentado nas áreas de gastro, por exemplo, que fala de câncer digestivo. “A educação médica no Brasil tem tido essa falha – é preciso uma transformação na educação”, considera.
Essa mudança na graduação em medicina poderá repercutir nos atendimentos e diagnósticos de câncer. Atualmente, quem pode fazer diagnóstico precoce do câncer e quem investiga inicialmente é o médico generalista. Entretanto, a grande maioria dos tumores é diagnosticada na forma avançada. “Conclusão: 80% dos gastos com oncologia são em tratamentos paliativos nos hospitais públicos do Brasil. Apenas cerca de 10 a 15% são em tratamentos curativos porque a maioria dos tumores é detectada em nível avançado e sem chance de cura”, comenta. Para Coimbra, o médico generalista não precisa saber tudo de oncologia, mas os principais conceitos básicos sim.
Outro fator que reforça a necessidade de a Oncologia ser uma disciplina na grade curricular do curso de Medicina é o fato de os pacientes oncológicos estarem vivendo cada vez mais. Essa longevidade faz com que médicos de outras especialidades venham a recebê-los como pacientes. Para o cirurgião, as faculdades também têm que se adaptar à divisão das áreas de Oncologia e Cirurgia Oncológica, que é recente no Brasil e foi alcançada quando Coimbra presidiu a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, de 2015 a 2017.
“Da mesma forma que na oncologia, outras áreas também merecem uma transformação na educação médica, e para citar apenas algumas delas destaco: conceitos e interpretação de pesquisa clínica, urgências clínicas e cirúrgicas, o cuidado com o idoso, planejamento da saúde, novas drogas, dentre outros.”
“Em se tratando de Amazonas, nenhuma distância é pequena”
Para o conselheiro da Online Clinic, Luciano Corsini, que também participou da live, o uso da tecnologia de forma complementar ajuda muito para melhorar o bem-estar da população. Ele lembra a ação da Online Clinic em projeto junto ao estado do Amazonas no combate à pandemia, em que a tecnologia desenvolvida pela Empresa viabilizou o atendimento remoto à população amazonense. “Em se tratando de Amazonas, nenhuma distância é pequena”, pontua. O projeto em parceria com a empresa IPNet, que reduziu essas distancias e aproximou médicos de pacientes resultou no prêmio oferecido pelo Google, Breakthrough of The Year.